Música
é como rosa. Bonita, mas tem espinhos. Pode encantar e pode ferir. Mas o mundo
a usa desde tempos imemoriais. De sons desarticulados, mas diferenciados,
acabou em harmonia, som após som, justaposição de notas e virou mensagem
pensada. Salmistas, sacerdotes e reis sabiam do poder da canção. Davi tocava
harpa e, mais tarde, como rei, achou lugar de destaque para a música no seu
governo. Tanto que chegava a escalar pessoalmente os cantores do templo,
tamanha a importância que dava aos que viviam da música. (1 Cro 9, 33; 15, 27).
Afirma-se
que Nero a usava. Os detratores acrescentam: muito mal! Hitler a usou
abertamente para o mal. As cortes e os exércitos a usavam e usam. Bandas,
orquestras, quartetos, corais, concertos, canto litúrgico, tudo é para
divulgar, organizar, motivar e chamar. A música pode ferir, ensurdecer e
desestruturar. Pode harmonizar, aclamar e até contribuir para a cura. A
músico-terapia é experiência mais séria do que se imagina ou se admite.
Usam
da canção as religiões; investem pesadamente nela os católicos, os evangélicos,
os mais diversos credos religiosos. Algumas igrejas pentecostais gastam hoje
milhões de dólares ou reais na preparação dos seus cantores. Monges,
autoridades e povo cantam desde tempos imemoriais. Entre os católicos a música
forjou toda uma geração de religiosos. Levantavam e ainda levantam-se de
madrugada e vão dormir ao som de louvores cantados. Cantores tocam, cantam e
dançam nas salas de concerto, nos templos, nas ruas. Música bem tocada chama o
povo. Abre espaço para a mensagem que vem depois. E há uma canção mais
agressiva que às vezes vem acompanhada de tóxicos; quem pensou em rock pensou errado. Há muita música que se
executa regada de bebida e de tóxicos porque cria e serve a determinado
ambientes, no mínimo suspeitos.
Cantam
os católicos da Teologia da Libertação, os da Renovação Carismática, os
marianos, os arautos do Evangelho, os monges do Tibet, os Pentecostais, os
conservadores, os progressistas, os moderados, os ecumênicos, os proselitistas.
Sua música traduz o seu modo de ver a terra e o céu. Entra lá a canção que
afina com seu projeto. Só ela! Raramente cantam o canto do outro. Nem sequer
expõem nas suas lojas as canções do outro movimento ou da outra igreja.
Ciumentamente divulgam apenas os seus cantores. É que dentro da canção vai a fé
ou a ideologia. Precisam dela porque além de evangelizar, a canção pode ajudar
suas obras! Cantam os seus e esperam que o outro os ouça. Eles preferem não
ouvir quem não ora como eles.
A
música une ou separa. Chama para o amor e para a guerra, para o bem e para o
mal. Feita por vozes e instrumentos, ela é também instrumento e porta-voz, de
Hitler, Stalin ou de uma simples e humilde escola para cegos. Feliz é quem a
usa de maneira ética! Feliz de quem não se deixa dominar ou enganar por ela!
Instrumento de diálogo, não deveria cair nas mãos nem dos violentos, nem de
pessoas incapazes de dialogar. Não pode ser transformada em arma, nem veículo
de mentira ou de fanatismo. É nobre demais para isso!
Fonte: Pe. Zezinho - sjc
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